Dishonored - PS3
Terceiro jogo do Arkane Studios, "Dishonored"
mostra do que um time formado por desenvolvedores experientes é capaz:
veteranos de "Thief", "Deus Ex" e "Half-Life",
seus criadores constroem um novo mundo fascinante, injetando uma bem vinda dose
de novidade nesse final de geração, mais comumente marcado pelos episódios
anuais de franquias estabelecidas.
O game surpreende também pela liberdade de ação oferecida ao jogador, que pode
optar por combates diretos, assassinatos frios, uso inteligente de poderes mágicos
ou encarar o desafio de ser extremamente furtivo, atravessando toda a aventura
praticamente sem ser visto.
Assim como os demais títulos no currículo de seus produtores, e também
"BioShock", "Dishonored" mostra que os games de tiro em
primeira pessoa podem sair da mesmice de guerras modernas e batalhas
futuristas.
Introdução
Em
"Dishonored" você é Corvo Attano, guarda-costas da Imperatriz de
Dunwall, acusado injustamente do assassinato da regente. Para limpar seu nome,
Corvo se une a um grupo de nobres conspiradores e você pode decidir como será a
vingança: sutil ou sangrenta, justa ou impiedosa. A aventura, toda em
primeira pessoa, pode ser jogada de diversas maneiras e é aí que reside boa
parte do charme de "Dishonored".
Pontos Positivos
"Dishonored" é uma mostra clara de como
um dos gêneros mais saturados dos games, os shooters com visão em primeira
pessoa, estão evoluindo. Ao invés de combates descerebrados ou ação frenética,
o jogo da Arkane se apóia em títulos como "Deus Ex",
"BioShock" e, principalmente, "Thief", para construir uma
narrativa inteligente e, especialmente, mecânicas de jogo envolventes.
Ao longo do jogo, Corvo adquire vários poderes e equipamentos, que possibilitam
muitas abordagens. O combate direto é divertido: Attano é um ótimo espadachim e
consegue bloquear e finalizar adversários com ferocidade. Você também pode ser
sorrateiro e eliminar vítimas pelas costas ou mesmo caindo sobre elas.
Corvo utiliza também uma pistola e uma besta. Esta possui vários tipos de
virotes, inclusive valiosas setas soníferas, indispensáveis para quem quer
evitar mortes desnecessárias. O assassino também conta com magias, desde a
viciante Blink, que permite teleportes curtos - e abre todo um leque de atalhos
para explorar - até a possessão, com a qual você controla ratos e eventualmente
outras pessoas.
O melhor de "Dishonored" é que não há um método certo para jogar.
Você pode atravessar o game em cerca de 6 horas, rasgando gargantas e mandando
bala em todos, mas se optar por parar e explorar meios alternativos, descobrirá
vários segredos e toda a história de Dunwall, a praga de ratos que assola a
cidade e seus habitantes fascinantes.
Ainda que não tenha o brilho da narrativa de um "BioShock" ou
"Half-Life 2", "Dishonored" é um descendente digno desses
títulos, que pega o que fizeram de melhor em termos de mecânica e leva um passo
adiante.
"Dishonored" se passa em Dunwall, uma
cidade fictícia em uma realidade 'steampunk' - pense nos livros de Júlio Verne,
mas adicione o cinismo e a sujeira da estética punk. A metrópole é inspirada na
Londres vitoriana, mas com elementos dignos de ficção-científica e uma peste de
ratos infestando todos os cantos. É um palco para muitas histórias, dentre elas
a saga de vingança de Corvo.
Os personagens que o cercam, desde o grupo de conspiradores até os vários
vilões e outros personagens secundários são bem desenvolvidos, ainda que
apegados a arquétipos clássicos: o ferreiro prestativo, o militar resoluto em
cumprir seu dever e assim por diante.
Boa parte de seu carisma se deve ao estilo artístico de "Dishonored",
com traços levemente exagerados e cores que dão um aspecto de pintura ao jogo.
Outro elemento importante na caracterização dos personagens é o excelente
trabalho de voz, que envolve nomes famosos como Carrie Fisher (a eterna
Princesa Leia, de "Star Wars"), Susan Sarandon (de "Thelma &
Louise") e John Slattery (de "Mad Men"), entre outros.
A cidade é muito bem construida: você parte de uma estalagem, esconderijo de
Corvo e seus companheiros, para vários distritos. Dunwall é feita de detalhes e
ao explorar suas ruas e apartamentos decadentes você vai conhecendo mais e mais
sobre o mundo de "Dishonored".
Com amuletos e runas mágicas escondidas em pontos de difícil acesso, cofres que
exigem fuçar quartos e ler cartas para descobrir suas combinações,
"Dishonored" estimula a exploração e o retorno do jogador para
locações já visitadas.
"Dishonored" oferece muita liberdade de
ação e cada objetivo pode ser alcançado de diversas maneiras. A vingança, ao
menos neste game, não é um prato que se come frio. Muitas vezes, você poderá
escolher quem poupar ou que castigo dar a um inimigo, alguns deles piores do
que uma morte rápida. Essas escolhas afetam o andamento do jogo e resultam
em finais diferentes.
Ao invés de gerar vários 'saves' e repetir trechos do jogo para ver cada
possibilidade, é melhor terminar a campanha e retornar, começando tudo de novo
com uma nova abordagem e descobrindo aos poucos as consequências dos seus atos.
Pontos Negativos
"Dishonored" tem poucos problemas. O mais
perceptível deles é a falta de orientação durante o game. Não há um mapa, por
exemplo, apenas indicadores da direção em que estão seus objetivos. Com
tantos poderes disponíveis para Corvo ao longo do game, é estranho que o
personagem não tenha um mapa para ajudar a se localizar.
Com tantas possibilidades de ação, é fácil se perder e cometer enganos cruciais
e até mesmo fazer vítimas indesejadas.
Em alguns casos, o jogo até apresenta algumas alternativas, logo no começo da
missão, mas todas essas indicações e sugestões desaparecem. Um jogador
experiente vai avançar com cautela, tornando a experiência quase tática. Mas
essa é uma lição aprendida com o tempo e não algo claro desde o começo em
"Dishonored".
De todos os personagens de "Dishonored",
Corvo é um dos menos desenvolvidos. Você joga com ele e sabe o quanto o sujeito
é durão e habilidoso, mas isso não parece fazer diferença no grande desenrolar
das coisas.
Diferente de um Ezio Auditore, Corvo não possui uma motivação clara para sua
vingança. Ele quer resgatar a princesa e acertar as contas com seus inimigos,
mas todas as missões para as quais é enviado vem de motivações terceiras. Toda
a liberdade oferecida durante a ação é tosada na narrativa, dando a impressão
de que Corvo é um 'office-boy' de luxo.
O fato do protagonista ser mudo, entre tantos personagens bem representados,
acaba por diminuir a importância do herói diante de seus companheiros.
No fim do dia, Corvo é um assassino habilidoso, dotado de poderes mágicos
sinistros e muito estilo, mas o protagonista de "Dishonored" ainda
carece de uma alma.
Fonte: http://jogos.uol.com.br/playstation3/analises/dishonored.htm
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